Autor: Artur Malzyner, oncologista no Hospital Israelita Albert Einstein e Clinonco, e Natalia Fernandes Garcia de Carvalho, mestre em Ciências

Doenças sexualmente transmissíveis (DST) constituem-se em um tema frequente entre jovens e adultos. A discussão frequentemente é focada em torno da prevenção e tratamento. Entretanto, pouco é divulgado sobre a relação de algumas destas doenças com o desenvolvimento de muitos tipos de câncer. As principais DST que podem estar relacionadas com o câncer são as infecções causadas pelos vírus T-linfotrópico humano (HTLV), Papiloma vírus humano (HPV) e o vírus da imunodeficiência humana (HIV).

As infecções pelo HTLV-1 estão relacionadas com o desenvolvimento da leucemia e do linfoma de células T do adulto, doenças estas graves. Além destas, pode causar a mielopatia associada ao HTLV-1, doença neurológica semelhante a outras doenças da medula nervosa, como a esclerose múltipla, e que apresenta elevado grau de sintomas incapacitantes.  Este vírus ataca os linfócitos T, um tipo de célula responsável pela defesa do organismo.

As doenças causadas pelo HTLV- 1 não tem tratamento especifico, exceto ao que se refere aos tratamentos oncológicos tradicionais da leucemia e dos linfomas, em que a quimioterapia e às vezes o transplante de medula óssea podem ser empregados com sucesso. Infelizmente, porém, mais de 80% dos pacientes com a forma aguda da leucemia morrem nos primeiros cinco anos após o diagnóstico.

Já o vírus HPV apresenta mais de 150 tipos diferentes que podem infectar a pele e mucosas, sendo que pelo menos 13 tipos são considerados potenciais causadores de câncer. Estimativas recentes sugerem que cerca de 5% de todos os cânceres são atribuídos ao HPV. Esta família de vírus induz infecções persistentes que frequentemente se associam a lesões precursoras do câncer. Dentre os HPV de alto risco oncogênicos, os tipos 16 e 18 estão relacionados à maioria dos casos de câncer do colo do útero e até 90% dos demais tumores associados ao HPV, tais como os cânceres de orofaringe (18-90% dos casos), vulva (18-75% dos casos) e pênis (60% dos casos).

São impressionantes os efeitos da vacinação em idade precoce contra o HPV. Em países em que a vacina já é aplicada há anos, foi observada uma redução entre 70-80% no número de infecções pelo HPV. Na Austrália, onde a vacina está disponibilizada desde 2007, houve redução de 80% das infecções; 90% no surgimento de verrugas genitais e 70% no número de lesões precursoras do câncer de colo de útero. Atualmente, o país relata a incidência de sete casos deste tipo de câncer a cada 100.000 mulheres, enquanto que no Brasil estima-se a incidência de 17 casos a cada 100.000 mulheres. Porém, estes números não revelam necessariamente todo potencial de benefício da vacina.

A vacina é quadrivalente, protegendo contra os quatro tipos mais comuns do vírus e está disponível em duas doses, que devem ser tomadas com intervalo de seis meses. É aplicada gratuitamente pelo SUS para meninas de 9 a 14 anos, para meninos de 11 a 14 anos, para pessoas de 9 a 26 anos com HIV/AIDS e para pacientes oncológicos ou transplantados.

Sobre o vírus HIV, com certeza é o mais conhecido e é responsável pela Síndrome de Imunodeficiência Adquirida, cuja evolução reconhecem-se alguns tipos de câncer associados, como sarcoma de Kaposi (4,4%), linfoma não Hodgkin (4,5%), além de outros. A descoberta de um tratamento efetivo para o HIV produziu controle médico da doença, evitando o aparecimento destes tumores considerados específicos do HIV.

A higiene e prevenção das DST são a pedra angular da prevenção de um enorme numero de casos de câncer observados na nossa sociedade. A contínua educação sobre higiene intima das crianças e jovens, e a vacinação das populações poderá vir a reduzir dramaticamente a incidência dos cânceres associados a DST.

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