Autor: Artur Malzyner, oncologista do Hospital Israelita Albert Einstein e consultor científico da CLINONCO (Clínica de Oncologia Médica)

Para que o nosso corpo se mantenha saudável e forte, é essencial que o sangue esteja com o nível de pH equilibrado, ou seja entre 7,35 a 7,45 – a escala pode variar entre 0 (mais ácido) até 14 (mais básico ou alcalino).

Caso o nível de acidez aumente muito –o que pode ocorrer por anos de alimentação errada e por fatores externos –, o organismo possui mecanismos para equilibrar esse pH, como por exemplo retirar cálcio dos ossos (em casos mais extremos de acidificação). “A manutenção do pH do sangue, na verdade, depende de uma série de mecanismos fisiológicos do nosso organismo, que inclui a função renal e trocas gasosas pela respiração”, explica Guilherme Perini, hematologista da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein, em São Paulo.

Mas com a moda da dieta alcalina, de repente todos os problemas de saúde passaram a estar lugados a uma acidificação do sangue. Será mesmo?Para ajudar, o UOL VivaBem conversou com especialistas para tirar dúvidas e esclarecer o que faz sentido ou não:

Alimentação pode alcalinizar o sangue?

Hábitos como fumar, excesso de álcool, estresse emocional, o baixo consumo ao longo de anos de vegetais e a alta ingestão de alimentos fontes de proteína animal, produtos processados e leite de vaca, assim como refinados, açúcares, refrigerantes e frituras, contribuem para que o sangue se torne mais ácido.

E mesmo que o corpo equilibre o pH sanguíneo naturalmente, o ideal é modificar completamente a dieta ao diminuir o consumo de alimentos formadores de ácido e equilibrar a ingestão de nutrientes, ou seja, 60% de alcalinos e 40% de ácidos. Mas, além da alimentação, a mudança do estilo de vida também é um fator influente na mudança do pH sanguíneo. “Praticar exercícios físicos de forma regular e atividades que ajudem a aliviar o estresse físico e também mental, como yoga e meditação”, conclui Esthela Conde, nutróloga com especialização em bases da medicina integrativa pelo Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa Albert Einstein (IIEPAE).

Os mecanismos responsáveis por esse equilíbrio só não ocorrem em caso de doenças como a DPOC (doença pulmonar obstrutiva crônica), cânceres, em especial os do trato gastrointestinal, entre outros. Sem esquecer que é válido afirmar que a dieta alcalina não seria capaz de equilibrar o pH sanguíneo a curto prazo, e o que o ideal, sempre, é a reeducação alimentar.

Dieta alcalina emagrece?

A dieta alcalina prega que o pH equilibrado do sangue leva ao emagrecimento, mas não é bem por ai. “Nem sempre os indivíduos que possuem o sangue mais alcalinizado são magros ou possuem maior facilidade no emagrecimento”, aponta . Além disso, fatores genéticos, hábitos e comportamentos alimentares e o fator de atividade física relacionam-se mais fortemente com o emagrecimento do que com a alcalinização do sangue”, aponta Ana Carolina Mendes, nutricionista e pós-graduada em terapia do comportamento alimentar pela Faculdade Gaúcha (FG).

Já para Perini, a dieta alcalina pode ajudar a emagrecer pelo seu efeito restritivo em alimentos processados e álcool, além de uma dieta balanceada com vegetais, frutas, fibras etc. “Mas esta perda de peso nada tem a ver com o pH”, analisa.

Sangue alcalino previne alguns tipos de câncer?

De acordo com Artur Malzyner, oncologista do Hospital Israelita Albert Einstein e consultor científico da CLINONCO (Clínica de Oncologia Médica), ambos em São Paulo e Daniel Gimenes, oncologista do Centro Paulista de Oncologia (CPO), faltam estudos específicos para comprovar que a dieta alcalina tem este poder de prevenir o câncer.

Eles apontam que vários dos alimentos desse plano estão elencados entre os que devemos incentivar na prevenção de muitas doenças como o câncer, síndromes metabólicas e doenças cardiovasculares, como por exemplo verduras e legumes. “Por outro lado, nem todos os alimentos reprovados pelos defensores da dieta alcalina, como peixes e aves, são necessariamente causadores desses problemas”, analisa Malzyner.

Gimenes acrescenta que o mais recomendado é seguir uma alimentação saudável e praticar esportes. “Tirando os casos hereditários, a alimentação pode sim interferir nesta doença, mas, neste caso, por ser uma dieta nova, não é possível dizer se ela impede a pessoa de ter o câncer”, complementa.

Sangue mais alcalino ajuda a ter um sono mais reparador?

De acordo com as fontes entrevistadas, não existem evidências científicas que demonstrem esse benefício. “Além disso, sabemos que pacientes obesos tendem a ter pior qualidade do sono. Então, a perda de peso, independentemente da causa – seja pela dieta alcalina ou outros meios –, tende a melhorar as noites dormidas”, esclarece Perini.

Dieta alcalina ajuda quem pratica atividades físicas?

As nossas células necessitam de oxigênio para produzir energia, que será utilizada pelo corpo em todas as atividades, como as basais (respiração, batimentos cardíacos e funcionamento dos órgãos) e as atividades físicas. “Então, quando o sangue está mais ácido, as células tendem a ter menos oxigênio e a consequência disso é menos energia para funções descritas”, afirma a nutricionista Mendes.

Ajuda a evitar gripes e resfriados?

O sangue “acidificado” interfere na absorção de vitaminas e minerais (diminuindo-as), além de favorecer o desequilíbrio imunológico. Então, quando o organismo está em equilíbrio ou alcalinizado, gripes e resfriados podem ter uma incidência menor.

Previne envelhecimento precoce da pele?

O organismo mais ácido impede as células de se regenerarem adequadamente. “O que se sabe é que o envelhecimento está ligado à produção de EROS (Espécies Reativas de Oxigênio), que possuem uma relação com o pH sanguíneo. Porém não há evidências científicas que comprovem isso especificamente”, diz a nutricionista.

Evita doenças metabólicas como diabetes e hipertensão?

O diabetes –que ocorre quando há um excesso de glicose circulante no sangue e o pâncreas não consegue produzir insulina suficiente para diminuir os níveis desse elemento — tem como um dos causadores o consumo elevado de açúcar, que por sua vez é um alimento formador de ácido. “Por conta disso, existe a ideia de que, se alcalinizar o sangue, é possível evitar o diabetes tipo 2. Porém, a prevenção da doença está relacionada a outros fatores, como hábito alimentar saudável (que não inclui somente alimentos formadores de alcalinidade), exercícios físicos, fatores genéticos, obesidade, entre outros”, aponta Mendes.

Algo semelhante ocorre com a hipertensão: como a dieta alcalina possui baixo consumo de sódio, acaba por ajudar no controle da pressão arterial. “Portanto, a prevenção à hipertensão irá acontecer independentemente do pH sanguíneo estar ou não alcalinizado”, afirma Perini.

Reduz as chances de surgirem pedras nos rins?

Quando há excesso de ácidos no nosso corpo, para manter o pH do sangue (que é muito estável), existe uma maior excreção renal de ácidos e de cálcio. “No pH ácido é mais provável de haver a precipitação de cristais de ácido úrico, o que poderia levar a cálculos renais”, explica o hematologista.

Acesse o link do Portal Viva Bem – UOL: https://vivabem.uol.com.br/noticias/redacao/2018/09/14/alimentacao-pode-alcalinizar-o-sangue-tire-suas-duvidas-sobre.htm

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